quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Sobre manifestações e partidos políticos.



As recentes manifestações, puxadas inicialmente por movimentos sociais (no Estado de São Paulo, pelo Movimento Passe Livre da capital paulista), trouxe consigo inúmeras e interessantíssimas reflexões.

Uma delas diz respeito às críticas direcionadas aos tradicionais partidos de esquerda – alguns, inclusive, com militantes ligados organicamente aos próprios movimentos sociais que orquestraram as manifestações.

A repulsão aos partidos políticos foi nítida – não por aqueles que construíram as manifestações, mas pela massa que aderiu aos protestos – causando mal estar entre as esquerdas.

Para aqueles que possuem orientação marxista, é difícil conceber que o partido possui, necessariamente, o gene de sua própria burocratização, ainda que admitam o fracasso de experiências históricas.

Na União Soviética a história do Partido Bolchevique percorreu, religiosamente, aquilo que Trotsky previu no ensaio ‘Nossas Tarefas Políticas: no processo de tomada do poder’: o partido de vanguarda se distanciou do movimento de massas que pretendia representar, transformando-se em aparelho dirigido por uma burocracia dotada de lógica própria.

A organização do partido substituiu o próprio partido, o comitê central substituiu a organização do partido e o secretário geral substituiu o comitê central, nas palavras do próprio Trotsky.

No Brasil, exemplo clássico encontramos no PT, cuja história fala por si só. Três décadas e um abismo político separaram o partido alavancado pelas greves do ABC do balcão de negócios chamado ‘mensalão’.

Posto isso, outra conclusão o imaginário popular não poderia chegar senão a demonização das agremiações políticas, tal como se observou nas ultimas manifestações tupiniquins.

Então, esse preconceito contra partidos é compreensível, embora não seja justificado – afinal, foram os tradicionais partidos de esquerda, com seus núcleos de juventude, que há décadas prepararam o terreno para as recentes manifestações.

Eles sempre estiveram nas ruas, levantando as mesmas bandeiras ora levantadas, e os que ‘acordaram agora’ querem retirá-los, repita-se, do lugar que sempre estiveram.

Mas, se não são os partidos de vanguarda os que irão centralizar a revolta popular e avançar no debate, quais os próximos passos dos movimentos sociais? Continuar na condição de movimento, com as limitações que este estado possui?

A história também pode sugerir a resposta, já que esta crítica também fora levada a efeito pelos anarquistas na Primeira Internacional, sobretudo por Bakunin, os quais recusavam a sistemática partidária e qualquer outra perspectiva que colocasse no horizonte a centralização do poder.

A partir daí, duas tendências surgiram: uma mais centralizadora, ligada ao marxismo, que desejava um corpo disciplinado sob as ordens de um comitê central, e outra mais libertária, de orientação anarquista, que pretendia uma federação de organizações autônomas.

Desta segunda tendência surgiu movimentos autonomistas, tais como os extremistas italianos Brigadas Vermelhas e os alemães Baader-Meinhof, que se utilizavam das mesmas estratégias atualmente utilizada pelos tais ‘black blocs’ brasileiros, os quais, ao que parece, não possuem centralismo algum, ao contrário dos primeiros.

De qualquer forma, método e programa equivocados, penso. Mas isso é outra discussão.

Fato é que esta discussão sobre os partidos políticos não é nova, mas pelo contrário, remonta a disputa histórica entre marxistas e anarquistas, agora requentada pelos últimos acontecimentos de nossa história recente.

No final das contas, um debate sempre necessário.

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