As
recentes manifestações, puxadas inicialmente por movimentos sociais (no Estado
de São Paulo, pelo Movimento Passe Livre da capital paulista), trouxe consigo
inúmeras e interessantíssimas reflexões.
Uma
delas diz respeito às críticas direcionadas aos tradicionais partidos de
esquerda – alguns, inclusive, com militantes ligados organicamente aos próprios
movimentos sociais que orquestraram as manifestações.
A
repulsão aos partidos políticos foi nítida – não por aqueles que construíram as
manifestações, mas pela massa que aderiu aos protestos – causando mal estar
entre as esquerdas.
Para
aqueles que possuem orientação marxista, é difícil conceber que o partido possui,
necessariamente, o gene de sua própria burocratização, ainda que admitam o
fracasso de experiências históricas.
Na
União Soviética a história do Partido Bolchevique percorreu, religiosamente,
aquilo que Trotsky previu no ensaio ‘Nossas
Tarefas Políticas: no processo de tomada do poder’: o partido de vanguarda
se distanciou do movimento de massas que pretendia representar, transformando-se
em aparelho dirigido por uma burocracia dotada de lógica própria.
A
organização do partido substituiu o próprio partido, o comitê central
substituiu a organização do partido e o secretário geral substituiu o comitê
central, nas palavras do próprio Trotsky.
No
Brasil, exemplo clássico encontramos no PT, cuja história fala por si só. Três
décadas e um abismo político separaram o partido alavancado pelas greves do ABC
do balcão de negócios chamado ‘mensalão’.
Posto
isso, outra conclusão o imaginário popular não poderia chegar senão a
demonização das agremiações políticas, tal como se observou nas ultimas
manifestações tupiniquins.
Então,
esse preconceito contra partidos é compreensível, embora não seja justificado –
afinal, foram os tradicionais partidos de esquerda, com seus núcleos de
juventude, que há décadas prepararam o terreno para as recentes manifestações.
Eles
sempre estiveram nas ruas, levantando as mesmas bandeiras ora levantadas, e os
que ‘acordaram agora’ querem retirá-los, repita-se, do lugar que sempre
estiveram.
Mas,
se não são os partidos de vanguarda os que irão centralizar a revolta popular e
avançar no debate, quais os próximos passos dos movimentos sociais? Continuar
na condição de movimento, com as limitações que este estado possui?
A
história também pode sugerir a resposta, já que esta crítica também fora levada
a efeito pelos anarquistas na Primeira Internacional, sobretudo por Bakunin, os
quais recusavam a sistemática partidária e qualquer outra perspectiva que
colocasse no horizonte a centralização do poder.
A
partir daí, duas tendências surgiram: uma mais centralizadora, ligada ao
marxismo, que desejava um corpo disciplinado sob as ordens de um comitê
central, e outra mais libertária, de orientação anarquista, que pretendia uma
federação de organizações autônomas.
Desta
segunda tendência surgiu movimentos autonomistas, tais como os extremistas
italianos Brigadas Vermelhas e os
alemães Baader-Meinhof, que se
utilizavam das mesmas estratégias atualmente utilizada pelos tais ‘black blocs’ brasileiros, os quais, ao
que parece, não possuem centralismo algum, ao contrário dos primeiros.
De
qualquer forma, método e programa equivocados, penso. Mas isso é outra
discussão.
Fato
é que esta discussão sobre os partidos políticos não é nova, mas pelo
contrário, remonta a disputa histórica entre marxistas e anarquistas, agora
requentada pelos últimos acontecimentos de nossa história recente.
No
final das contas, um debate sempre necessário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário